Sem sal.
Sentado no vaso sanitário
lia os rótulos de shampoo
pensando na própria vida
tinha sentimentos de culpa.
Quando precisava ir ao dentista
escovava os dentes com vigor,
aquela sensação de quem não tinha feito a coisa certa
e agora corria contra o tempo,
contra as provas dos seus erros.
No espelho do banheiro
via os próprios olhos
amarelos da cor da aurora
do novo dia que não chega,
sinal que o fígado estava sendo maltratado,
e naqueles tempos quem não estava?
Os dias eram difíceis
e as noites quentes demais,
a condição perfeita pro mergulho, sem máscara de oxigênio,
para a queda, sem para-quedas.
De qualquer forma,
ainda tinha os cabelos perfeitos,
méritos,
do shampoo sem sal