quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sem sal.



Sem sal.

Sentado no vaso sanitário
lia os rótulos de shampoo
pensando na própria vida
tinha sentimentos de culpa.
Quando precisava ir ao dentista
escovava os dentes com vigor,
aquela sensação de quem não tinha feito a coisa certa
e agora corria contra o tempo,
contra as provas dos seus erros.
No espelho do banheiro
via os próprios olhos
amarelos da cor da aurora
do novo dia que não chega,
sinal que o fígado estava sendo maltratado,
e naqueles tempos quem não estava?
Os dias eram difíceis
e as noites quentes demais,
a condição perfeita pro mergulho, sem máscara de oxigênio,
para a queda, sem para-quedas.
De qualquer forma,
ainda tinha os cabelos perfeitos,
méritos,
do shampoo sem sal

sábado, 23 de fevereiro de 2013

divindade

divindade

Quando retiro a colher
vejo uma galaxia branca
girando na espuma do café,
ela se desfaz no primeiro gole
e não ligo
onipotente,
sou como Deus.
Observo o vai e vem de sacolas
é véspera de feriado
dia de algum santo
alguém que morreu mártir
e eu nem nem sei quem
e ninguém sabe
e não importa,
pago a conta e vou embora,
fingindo indiferença,
ser divino tem seu preço,
e não é pra qualquer um
é importante ter estilo
andar sobre a água
com o sapato furado,
multiplicar os pães,
com a carteira vazia.

motivação

motivação

Somos pequenos
moscas, formigas, pontinhos,
partículas,
quânticas ilusões
no universo de vaidades
vibrando, sonhando e saltitando
pelas calçadas cheias de buracos
pelas almas cheias de lacunas
somos especialistas
ostentando orgulhosamente
o amarelo dos dentes postiços.
E somos todos leigos
horda de loucos, famintos e desencontrados
que transpiram, transbordam,
transportam, corrompem e surtam.
Sem caminhos para seguir
não há motivos para correr,
no porto, na praça, nos bancos
os mesmos rostos
camisas mal passadas
com farelos de pão
e mesmo assim seguimos,
ganhando dinheiro,
perdendo os cabelos,
procurando motivos
para calçar os sapatos
mesmo que sempre
todos relógios
apontem seis da manhã.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

herói da história


herói da história

Alguns dias não acabam nunca,
algumas histórias, não acabam bem,
uns ficam quietos
outros bêbados
eu fico entre os loucos
sempre achando ridículo
o desfecho final.
Já estou na rua,
com os pés molhados
e sem guarda chuva,
quando a platéia urra
aplaudindo em desespero,
de pé,
a queda do vilão,
como se eles próprios
fossem os heróis
e não apenas
meros
coadjuvantes.

ele


ele

No quarenta e cinco eu nasci
em quarenta e cinco ele nasceu
e a guerra acabou?
quarenta e cinco vezes
eu sonhei e vivi
no vértice
do triangulo das bermudas
quarenta e cinco graus
isósceles, geometria imperfeita
no calor da hora
quarenta e cinco graus centígrados
no céu, o sol
na sombra dele
eu.