sábado, 25 de maio de 2013

carne santa

carne santa

não deveria ter entrado...
algumas vezes, não sempre,
precisava ser impedido
precisava até ser salvo.
não deveria ter entrado,
quantos problemas evitados!
dias de fome,
noites de frio...
onde andavam meus amigos?
se ficasse de fora,
talvez
tivesse alguma chance,
algum alento,
e descobrisse em mim o talento
para fazer algo bonito
artístico, estético,
boêmio patético!
mas estive só,
e absinto muito tudo isso.
fiquei ali,
pensando pouco, no pé da catedral
ganhei um beijo por piedade, ou maldade,
de um anjo que passava
fantasiado de princesa
meio da tarde, terça feira
num outro carnaval.

domingo, 19 de maio de 2013

Tango ao despertar


Tango ao despertar

Amanhecia lentamente
dois graus no horizonte sem cor,
eu e o café bebido
espiávamos o movimento
pela janela da Amarante,
víamos os passantes,
os amantes
andando encolhidos,
voltando das festas,
indo ao trabalho,
valsando,
num passo marcado.
o rádio desbotado,
da velhinha do primeiro andar,
tocava um tango antigo
bem mais que o tempo
tristezas de outra época.
aquele som,
naquele frio,
desfiando lágrimas, maldizendo amores
foi lindo
fechei os olhos para ouvir
e o amargo do café
fez sentido
no céu
da minha boca.

sábado, 4 de maio de 2013

morena

morena

de vez em quando,
ela me desarma.
fico só mirando,
os passos dela pela sala,
toda cílios, cabelos e lábios.
fala rouca bem baixinho,
ronronando,
dando fé das minhas canetas,
usando minha camiseta,
pra me explicar do alongamento,
da massagem,
do kit de maquiagem,
que mulher, tem que fazer drenagem,
que as vezes, calça 35,
pois tem calcanhar pequeno,
e que o esmalte, dessa vez,
é pitanga com luxúria.
eu adoro
e não preciso dizer nada,
ela sabe,
tudo aqui é gratuito,
estico a mão
chamo ela pro meu peito,
ela vem,
e é perfeito.