sábado, 27 de abril de 2013

lápis verde

lápis verde

na calada da noite
você nem vê,
o que faço,
com a ponta macia
do lápis verde 6B.
sem perder a calma,
posso furar seu olho
cutucar sua alma,
devagar,
te sujar de lama,
furar a bolha,
e te derrubar da cama.
semana após semana,
e você nem vê.
os gritos,
escritos borrados,
orgulhos, pecados,
nus,
desenhados,
com a ponta macia,
do lápis verde 6B.

domingo, 21 de abril de 2013

Remoto Controle

Remoto Controle

pago caro
pelos canais que não tenho
e os que tenho não assisto,
só existo,
correndo no asfalto sob sol,
juntando moedas,
para o pão,
para a luz,
e tudo que mal posso ter
e tudo que não quero ter.
passo mal,
passo longe,
espiando nas janelas,
só tendo a caneta
e o papel de escrever,
e vejo as senhoras gordas,
sentadas,
comendo biscoitos de polvilho,
com vestidos floridos,
esperando a hora de morrer,
passando os últimos minutos,
com elas,
com as telas das TVs.

domingo, 14 de abril de 2013

Mosaico


Mosaico

A vida é um mosaico
algumas peças não combinam
outras não casam bem
outras casam muito
esqueci de tanta coisa
montando esse desenho
fico parado olhando
miro o passado
mas não lembro bem
fico curvado
sobre o papel
minha coluna chama
minha atenção
igual criança mimada
e eu envolvido
no quebra cabeças
e já quebrei muitas vezes
o que assusta
é que não lembro bem
tanto faz
o meu tesouro está por perto
com unhas de veludo
a vida é um mosaico
e algumas peças
combinam bem.

domingo, 7 de abril de 2013

reflexão e cafeína

reflexão e cafeína

O café que eu frequento
é todo janelas
e é grande
e é sujo, o vidro,
por dentro e por fora.
de dentro,
as moscas batem querendo sair
de fora,
os mendigos batem querendo entrar,
e ambos trocam olhares
sobre o meu café.
esse muro transparente
separa tudo
miséria e miséria
decadência e decadência
solidão e solidão
estranho espelho.
e de repente percebo
"tudo lá fora é um reflexo meu"
assim
mantenho os olhos na xícara
ignoro
o zumbido da mosca
a fome do mendigo
evitando
eu.

Os não bucólicos

os não bucólicos

não pagaram nosso sucesso
não bancaram nossos estudos
somos a geração perdida
a desilusão dos pais
existindo por causa
e apesar deles.
corremos até cair,
perdemos pedaços por aí
banguelas
mascando
com o buraco da gengiva
o pão de ontem
que o diabo comprou.
e seguimos
por puro acaso
desde o nascimento acidental,
buscando o sonho ocidental,
até o próximo segundo,
próxima parada paraíso,
logo depois
de agora.